segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Pelo visto, está tudo bem!


Ontem bateu aquele desespero sobre o que eu iria falar. Eram 6h35 de uma manhã meio nublada, meio querendo sair o sol, e que apenas começava e eu ainda acordado, saía de uma imersão de cultura, o Corujão da Poesia. Rugas se formaram em meu rosto, peguei o jornal que chegava naquele momento, fresquinho, cheirava quase como um pão francês no afã de ter alguma luz divina. A luz veio, mas de divina nada tinha. Muito pelo contrário.

E será difícil prever quem foi o responsável? Quem? Quem? Raimundo Nonato? Não. Tenta de novo. Vai, coragem, arrisca. Lula!? Bingo! Desculpe, mas bingo é proibido. Mas então tá tudo bem?

Poderia estar. Mas não está não. Será que você pode considerar tudo bem quando o presidente ainda em exercício, vendo (acredito eu) tudo o que aconteceu aqui no Rio de Janeiro, defende a compra de um novo avião para sua pupila-sucessora, e agora presidente Dilma Rousseff? Será mesmo que a prioridade número dois de Lula – a primeira foi eleger Dilma – deveria ser comprar um avião para Dilma? Tudo bem que ele tenha dito que tudo o que o governador pedisse ele daria para ajudar na nossa luta contra a violência. Mas, não é só isso. Colocar as forças armadas na rua pode resolver o problema agora só que o buraco é mais embaixo. Não será com armas que vamos acabar com isso. A visão deve ser mais ampla e deve abraçar nossas crianças que estão despertando para a vida. Que estão começando a se formar como pessoas, como indivíduos.

E o que é o individuo para Lula? Não sei. Ele sabe? Será que dar uma Bolsa aqui, outra ali vai ajudar a resolver alguma coisa? Para que tapar o sol com a peneira? Para que insistir em usar um cobertor curto, que na hora que se puxa, os pés ficam descobertos?

Lula, vou te ensinar uma coisa que não se aprende na escola. Tudo é uma questão de querer e de prioridade. Maquiar o problema não vai adiantar. Fico envergonhado de ouvir você falar que acha vergonhoso o avião presidencial ter que fazer várias escalas por falta de autonomia de voo. Não sinta vergonha disso. Sinta vergonha dos escândalos pelos quais seu governo passou. Sinta vergonha de ter professores ganhando péssimos salários, sinta vergonha de policiais ganhando péssimos salários, sinta vergonha de ter a imagem do Rio de Janeiro e do Brasil ter sido manchada no mundo pela guerra pela qual nós cariocas passamos.

Vergonha é ter esse índice alto de analfabetos. Vergonha é ter poucos querendo se formar professores. Vergonha é saber que pessoas num país como o Brasil morrem na fila dos hospitais por falta de médicos, leitos, remédios, atendimento. Isso é vergonhoso. Vergonhoso é ter um presidente que pensa isso. Que pensa assim. Vergonha será a aprovação da cobrança do “novo-velho” imposto que vocês chamam de contribuição e que falam que irá servir para ajudar na saúde. Se antes não ajudou, agora vai? O que mudou? Não foi sua cabeça. Ou vai mudar a forma de aproveitar o dinheiro?

Na sua cabeça não sei o que se passa. Aliás, acho que sei. É vergonhoso, isso eu te digo.

Vergonhoso é achar que o Palácio do Planalto precisa trocar seus móveis, tapetes e de uma reforma astronômica e cara enquanto pessoas não têm onde morar nem o que comer. Ou pessoas morando onde não há saneamento básico. Vergonhoso é ver aumentos de salário para os parlamentares serem aprovados em questão de segundos e com índices que nenhum economista conseguiria me convencer de que são honestos, enquanto que o aumento para o salário mínimo tem que ser discutido com todos e acaba virando uma novela do tipo “Vale a pena ver de novo?” e é necessário fazer contas para, aí sim, ver se é viável. O nosso aumento. O de vocês não. Qual é a mágica? Para os “reis” tudo, para seus súditos o resto?

Não somos dignos de restos. Não queremos sobras. Merecemos mais respeito. E uma maior preocupação conosco. Com nossa educação, formação, saúde e qualidade de vida.

Você poderia pegar toda essa sua vergonha e sentir-se envergonhado como nunca na sua vida.

Vergonha da vergonha. Mas proponho uma coisa. Será como um exercício. Ou como contar de uma história. Você não quer pelo menos tentar? Não vai doer. Ou talvez doa um pouco. Mas você vai sobreviver. E entender. Começa assim: “Era uma vez um rei que ao acordar num dia qualquer de um ano qualquer, se sentiu incomodado, envergonhado e achava que deveria comprar mais cavalos para sua charrete oficial que seria passada ao seu sucessor e para que ele não tivesse que parar muitas vezes pelo caminho para cruzar fronteiras e visitar outros países com quem mantinha relações comerciais. A compra desses cavalos iria resolver o problema. Mas então surgiu um murmurinho na rua que foi ouvido lá de cima do alto da colina e que fez com que ele olhasse pela janela e lá do alto então ele viu talvez pela primeira vez, que várias pessoas estavam nas ruas vendendo prateleiras. Aquilo lhe chamou a atenção e pediu que fossem perguntar qual a razão daquilo tudo. E a resposta não tardou a chegar: “V.Exª, disseram que como não há livros para serem colocados nas prateleiras, pelo menos ao vendê-los eles terão o que comer ou como comprar remédios”. Foi nesse momento que então a vergonha sentida naquele dia qualquer por uma razão qualquer se transformasse na vergonha de não ter percebido que o povo que o elegera precisava de livros, saúde e comida, tudo como sendo um complemento do outro e não como uma prova de múltipla escolha onde você deveria optar.

Lula, pega essa grana e investe no povo, investe na sua gente como você diz que o povo é. Tenha orgulho de ser um presidente que não se importa em ter que parar várias estações para chegar onde tiver que ser. Quem tem que ter a chance de chegar em algum lugar o mais rápido possível somos nós. E é somente através da educação que você poderá realizar a maior viagem da sua vida sem escalas.

Salvem as baleias. Não jogue lixo no chão. Não fume em ambiente fechado.

Um comentário:

  1. Precisa dizer mais???
    Perfeito, o texto!
    Mas Lula entender, é que é dificil, até porque
    não abre mão de suas mordomias pelo povo, povo que "tanto ama" !

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