quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Lição de Casa!®

A tragédia que marca esse começo de novo ano será inesquecível para milhares de pessoas. E da pior maneira que uma lembrança pode ser: dolorida, cruel, avassaladora. Entre mortos, feridos e desabrigados fica a pergunta, a indagação, a resignação, a incompreensão, a perplexidade.
Culpa? Descaso? Incompetência? Inércia?
De tudo temos um pouco. A hora é de união de quem está de pé, e mesmo de quem perdeu muito, quase tudo ou tudo vemos que solidariedade é algo que não falta. Chega a transbordar.
Somos milhares querendo ajudar outros milhares. As histórias vão surgindo, vão sendo contadas. Lágrimas vão caindo.
E nessa hora eu fico me perguntando e agora José? E agora Pedro? E agora você?
Todas as tragédias trazem consigo sempre a promessa que dessa vez se aprendeu a lição, que amanhã tudo vai ser diferente. Ledo engano. E põe ledo, e põe engano nisso. Pode ser a lição de que é necessário se mudar o código penal, de que é necessário se punir com maior rigor quando uma filha nossa é morta por bandidos na entrada do Metrô ou se nosso filho é arrastado por metros numa tentativa de assalto. As duas vítimas que disseram serviriam de lição não foram suficientes para que uma evitasse a outra. Nesse quesito nada mudou.
Ano passado aqui mesmo no Rio de Janeiro tivemos uma tragédia onde pessoas morreram por estarem morando em área de risco, outras centenas ficaram desabrigadas, a cidade parou, ilhada, alagada e desde então se passaram oito meses e a lição foi? Nenhuma. Ou quase nenhuma. Pensaram que deveriam retirar moradores em áreas de risco. Mas até aí tudo bem! Pensar não move montanhas. E as pessoas não foram movidas, não mudaram. Continuam lá, até que a próxima chuva faça o serviço sujo que poderiam fazer de forma limpa. Isso nos faz concluir que a lição foi zero. O Estado foi reprovado. E ainda além de tudo, existem pessoas que estão até hoje esperando ajuda, o aluguel social. Mas isso não é particular do Rio de Janeiro. Em Alagoas isso também acontece.
Recentemente foi comprado um equipamento caríssimo e que serviria de alerta para evitar certas tragédias e isso adiantou alguma coisa? Foi dado até um alerta, mas a informação não seguiu viagem. E ai...
Como explicar para uma criança isso tudo? Como dizer para ela que seus pais morreram, sua casa acabou e sua família agora é ela e mais ninguém!
O Estado, o governo falhou feio em não fazer nada. Foi incompetente e muito mais coisas que não daria para dizer aqui e agora.
Esse papo de que é complicado, pois não se tem onde colocar esse povo todo que vem para as encostas dos morros porque é mais perto do trabalho, o transporte é mais fácil, onde tudo é mais “fácil”, não cola.  Eles não podem alegar falta de dinheiro. Para muitas coisas eles arrumam o dinheiro que for. Com quem for. A hora que for. Por que então para salvar vidas eles não fazem então esse “milagre”?
Quer dizer que para sediar uma Copa do Mundo, os Jogos Olímpicos, aumentar os salários deles próprios, o dinheiro brota como se desse sabe-se lá de onde. Num passe de mágica.
Se for dinheiro também para pagar a aposentadoria de ex-governadores precocemente o dinheiro jorra e aparece. Mesmo que o Superior Tribunal Federal (STF) diga não, não. Os ex´s dizem sim, sim e sorriem para a foto. Lindo isso.
Dilma sobrevoou a tragédia. O governador também. Todos “fizeram sua parte” e sua aparição. Mas e aí? Será que dessa vez vai? Eu não acredito. Nem um pouco. 
Com isso tudo fica a pergunta: Estamos preparados para receber o mundo aqui? Óbvio que não. Se não estamos preparados nem para cuidar de quem já mora aqui, imagina cuidar de quem quer vir para cá!
Se fosse possível escrever sobre como a tristeza tomou conta de mim, de como a lágrima se apoderou de meu peito, eu juro, escreveria. Mas isso é complicado até para quem arrisca a escrever um pouco de poesia como eu.
Hoje me sinto órfão de palavras que denotem palavras que possam realmente expressar a dor de ver a dor de quem tem amanhã que levantar sacudir a poeira e a lama e recomeçar tudo de novo.
Hoje queria terminar de forma diferente meu texto. Primeiro agradecendo a todos que tem doado seu tempo e ajudado como podem e segundo dizendo que não devemos nunca esquecer a palavra SOLIDARIEDADE.
texto publicado em minha coluna Grita Brasil em 20.01.2011

2 comentários:

  1. Oi Scahmis tinha sumido mesmo, mas estava sempre lendo seus textos.

    Maravilhosos como sempre. Parabéns.

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  2. Esse texto é muito bom! Parabéns!!

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